com seus grandes olhos tristes,
timidamente sorriu...
Um sorriso agonizante
trôpego, morno, ofegante
de quem só sorri porque...
não tem mais o que fazer.
Senti naquele momento
saudade perdida no tempo
de uma infância que eu vivi.
De olhos grandes também...
agonizante também...
morno e ofegante também...
e timidamente sofri.
Naquele menino triste
recoberto de pobreza
que tanto esperava de mim
eu pude ver com certeza
o que deixei de fazer
o que depressa esqueci.
Máscara cruel da fome
impossibilidade de ser
por não ser ou por não ter
ou simplesmente por ser.
E foi então que eu senti
bem lá no fundo de mim
uma pergunta a bailar:
- Como é que pode, meu Deus,
alguém ter na sua frente
esse tiquinho de gente,
e uma moeda negar?!...